Simplesmente Gisele
Ela estabeleceu padrões na moda: “o cabelo Gisele”, “os passos Gisele”, “o corpo Gisele”
Por Pedro Diniz
Padrões de beleza na moda são efêmeros. Eles vêm e vão. Há um tipo, porém, que perdura
desde que despontou para o mundo, há cerca de 20 anos, e que virou unanimidade: o “
padrão Gisele”. O “cabelo Gisele”, os “passos Gisele”, o “corpo Gisele”.
A modelo mais bem paga e influente da história transformou-se em supermodelo com apenas cinco anos de carreira, übermodel (um termo alemão para definir algo ainda maior do que súper, extremo) antes dos 30 e, desde o início desta década, alçou-se ao patamar de ícone.
O que explica os superlativos creditados à top é o resultado de uma equação complicada e muito bem engendrada por ela e a inseparável família: um tanto de risco, muito sentido de oportunidade, sólida identidade, bom planejamento e, como em toda boa história, um pouco de sorte.
Saída de Horizontina, no interior do Rio Grande do Sul, Gisele não foi descoberta enquanto comia um lanche no McDonald’s, como conta parte das mil anedotas sobre o início da sua carreira. Ela se inscreveu aos 13 anos em um curso arranjado pelo olheiro Dilson Stein, natural da mesma cidade e dono do aguçado par de olhos que também descobriu Carol Trentini e Alessandra Ambrosio.
“Falei para uma tia dela que Gisele seria uma das maiores modelos do mundo. Ninguém deu muita bola. A mãe achou a ideia interessante, o pai titubeou, mas armei um encontro com o Zeca de Abreu, na época da agência Elite. Ela não parou mais”, diz Stein.
Foi na virada de garota desconhecida para promessa da moda brasileira que a veia empreendedora surgiu. Stein conta que o pai da então adolescente, Valdir Bündchen, pediu que o todo-poderoso da Elite, o americano John Casablancas, fizesse um plano de ação para a filha nos cinco anos seguintes à assinatura do contrato.
A primeira capa de revista veio em 1995, para a CAPRICHO, da Editora Abril. No ano seguinte, ela estreava na passarela da Zoomp, no antigo Morumbi Fashion, embrião da São Paulo Fashion Week. Em 1997, iniciou a carreira internacional, no desfile do estilista Alexander McQueen.
Da primeira fila daquela apresentação, a poderosa editora-chefe da Vogue americana, Anna Wintour, cravou às colegas: Gisele representaria a beleza da mulher. Em julho de 1999, ela era apresentada, de cara quase limpa, com curvas, cabelos ondulados e bochechas rosadas, como a epítome do “novo sexy”. Casablancas não decepcionou.
“Gisele surgiu na hora certa, no lugar certo, no momento certo e ainda soube aproveitar todas as oportunidades que a vida lhe deu”, diz o patriarca das semanas de moda nacionais, Paulo Borges. Fundador da São Paulo Fashion Week, ele acompanhou os primeiros passos da modelo, a quem chama de “a verdadeira embaixadora da moda brasileira”. “Ela carrega a identidade de um Brasil contemporâneo, novo, alegre, saudável. Abriu as portas para a geração inteira de modelos da sua época e das que virão.”
E foi exatamente assim. A garota que todas as marcas queriam ter abriu espaço para uma invasão brasileira na moda internacional. Fernanda Tavares, Luciana Curtis, Ana Claudia Michels e tantas outras meninas saudáveis e curvilíneas para os padrões esqueléticos da época ascenderam ao olimpo.
Cavalo de raça
Outras características explicam o sucesso de Gisele. Ninguém, por exemplo, desfilava como ela. O andar cruzado e a subida de pernas mais alta na passarela fizeram seus movimentos serem comparados aos de um “cavalo de raça” se apresentando à plateia. “Ela sabia que seria um grande diferencial na carreira, algo que ela havia fundado e seria sua marca para sempre”, explica a consultora e empresária Costanza Pascolato.
Quem já viu a modelo trabalhar destaca a fixação por pontualidade – tanto para o início quanto para o tempo estipulado do trabalho –, o controle da própria imagem e o constante sorriso largo e simpático, joia rara em um mercado de egos. “Ela nunca se entregou às pequenas diversões desse mundo. É de uma disciplina absoluta, uma noção de business que pouquíssimas pessoas levam em conta e que exige algum sacrifício”, diz Costanza.
Um desses “sacrifícios” foi, em 2007, não renovar o contrato com a Victoria’s Secret, sonho de qualquer modelo e marca responsável pelos faturamentos anuais milionários das tops. Reza a lenda que a grife de lingerie não quis aumentar os 10 milhões de reais anuais que a modelo recebia.
Seu faturamento, hoje, é estimado em 100 milhões de reais por ano, três vezes mais que o segundo lugar do ranking das modelos, a “angel” brasileira Adriana Lima. Linhas próprias de lingerie e contratos milionários com Chanel, Pantene e Under Armour mantiveram a top sempre no auge.
O segredo de Gisele, de acordo com Costanza, foi acompanhar os movimentos do mundo ao seu redor. “Ela colocou identidade na carreira. Nunca mudou, e se mostra firme em seus princípios de proteger o meio ambiente e ter uma vida saudável, tudo o que a juventude deste século prega e a anterior não dá tanta bola. Ela se manteve no topo não apenas por causa da moda, mas porque conseguiu estar no inconsciente das pessoas.”
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